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29 de novembro de 2010

Jeff Beck traz álbum inédito ao Brasil

Guitarrista Jeff Beck traz álbum inédito ao Brasil

Último herói da guitarra, Jeff Beck chega hoje ao Brasil. Remanescente de uma estirpe de guitar heroes que inclui Jimi Hendrix e Duane Allman (mortos) e Eric Clapton e Jimmy Page (vivos, mas semiaposentados), um clube fechadíssimo, o ativo guitarrista britânico de 66 anos desembarca a bordo de um novo álbum, "Emotion and Commotion", seu primeiro trabalho de estúdio em sete anos. Ele toca hoje no Rio e amanhã em São Paulo, no Via Funchal.

"A coisa que mais tenho ouvido nos últimos tempos é Django Reinhardt", disse o guitarrista, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, por telefone. "Observar o que Django fez, no tempo em que fez, e da forma que fez, é algo que tem me deixado boquiaberto", afirmou o músico, que esteve no Brasil há 12 anos para o Free Jazz Festival.

Dos notáveis da guitarra, Jeff Beck foi o único que nunca teve o sucesso comercial de seus colegas. E seus álbuns são uma linguagem quase cifrada para a maioria dos ouvintes. Depois que Rod Stewart deixou o seu Jeff Beck Group, em 1971, ele nunca mais trabalhou com vocalista de semelhante nível em seus álbuns - à exceção, talvez, deste novo, para o qual convidou as cantoras Joss Stone, Imelda May e Olivia Safe.

Falando ao Estado, colegas de guitarra não foram econômicos ao elogiá-lo. "Jeff é um onipresente homem da Renascença", disse Billy Gibbons, do ZZ Top. "Para mim, o maior de todos os guitar heroes é Jeff Beck, que ouvi quando tinha 12 anos. Ele me fascina por continuar se desenvolvendo ano após ano, criando uma linguagem para guitarra. Sim, é certo que é uma linguagem que ninguém fala...", brincou Brian Ray, o guitarrista loiro metálico de sir Paul McCartney. Clapton já chegou a dizer que Jeff é "o melhor de todos".

Entre 1965 e 1966, Jeff Beck tocou no The Yardbirds. Em seguida, formou o Jeff Beck Group, com Rod Stewart e Ron Wood (Rolling Stones). Inglês de Wallington, nascido em 1944, Beck trouxe para o rock inglês certa pulsação do blues americano: Muddy Waters, Buddy Guy e outros. Nos anos 80, andou a serviço do funk e do jazz, tocando fusion e projetos com músicos de outras áreas, como Jan Hammer, da The Mahavishnu Orchestra. Com o Jeff Beck Trio, ganhou um Grammy. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (AE)

28 de novembro de 2010

O verdadeiro Capitão Nascimento. BOPE



O ex-comandante do Bope Rodrigo Pimentel inspirou o capitão Nascimento, vivido por Wagner Moura

Entrevista exclusiva ao UOL Notícias publicada no site http://www.piauinet.com.br
A foto com a boina estampada pelo símbolo do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio de Janeiro, a caveira, foi até este ano, ironicamente, a menor das semelhanças entre o ex-comandante do Bope Rodrigo Pimentel e o capitão Roberto Nascimento, vivido pelo ator Wagner Moura no aclamado “Tropa de Elite”. Os conflitos familiares vividos por Pimentel ao longo de sua carreira na PM e o estresse de quem trabalha “no fio da navalha” diante da violência urbana da capital fluminense foram decisivos na composição do personagem principal do longa metragem do diretor José Padilha.
A inspiração que uniu os personagens da ficção e do mundo real, porém, termina em “Tropa de Elite 2”, quando o agora coronel Nascimento abre mão do seu objetivo de criar um substituto no comando do Bope e de dar mais atenção à sua esfacelada relação familiar para seguir à frente no combate aos “vagabundos”. Rodrigo Pimentel seguiu caminho inverso. Hoje o seu celular toca para atender pedidos de entrevistas e para organizar sua vida de comentarista de segurança pública, e não mais para largar a família em casa para liderar uma operação policial.
“Se eu estivesse na Polícia Militar, hoje, certamente estaria comandando um batalhão. É uma vida infernal. Ele leva um celular para casa e esse celular vai tocar no final de semana umas dez vezes. Eu curto muito os meus dois filhos, curto muito meu fim de semana. Sou mais feliz hoje”, confessa Pimentel, co-roteirista de “Tropa de Elite” e “Tropa de Elite 2”.
Nesta entrevista exclusiva ao UOL Notícias, Pimentel, agora uma espécie de antítese do protagonista da trama policial, explica também que, ao contrário de Nascimento, cujo lema que inspira seus comandados é de que a “guerra é a cura”, sua “válvula de escape” hoje é “falar sobre segurança pública, promover debates, falar com vocês aqui”.
Há dez anos longe da PM, e há quase um como comentarista de segurança do telejornal regional da Rede Globo, o RJTV, ele afirma também que “esporte, política, cultura, moda, isso sempre foi comentado e debatido em qualquer jornal do Brasil. Já na segurança pública a notícia sempre foi apresentada, jogada, e você acreditava naquilo”.
Além de roteirista, e comentarista, Pimentel também promove palestras pelo Brasil abordando o cenário da segurança pública fluminense. O principal assunto é a proliferação das milícias nas favelas e na política do Rio.
UOL Notícias – Neste “Tropa de Elite 2” o agora coronel Nascimento, vivido mais uma vez por Wagner Moura, não conseguiu largar o trabalho com segurança pública, ao contrário de você. Até que ponto as semelhanças se mantiveram?
Pimentel – Lógico que o capitão Nascimento tinha alguma coisa a ver comigo. Na história, eu fui buscar lembranças da minha passagem pelo Bope, da minha vida familiar, dos meus conflitos, mas nesse segundo filme está bem claro que é uma obra de ficção. Mas me inspirei em pessoas que existem. Eu busquei um amigo que comandou o Bope e depois foi subsecretário de inteligência; eu busquei a figura do subsecretário de inteligência, o coronel Romeu, que participou do governo [Anthony] Garotinho, participou da secretaria de Segurança Pública do [Marcelo] Itagiba, e eu tenho absoluta certeza de que ele fez o possível ali para sair daquela função de forma honrada e ética. Tenho certeza absoluta que ele conspirou para o bem. Então, a ideia de um coronel Nascimento cercado por corruptos, numa secretaria onde todos estavam focados em eleição, não é uma ideia tirada da cartola, isso aconteceu em um momento do Rio de Janeiro.
UOL – O filme traz a frase que guia a trajetória do coronel Nascimento e de todos que combatem a violência no Rio de Janeiro: “A guerra é a cura, é a válvula de escape”. Após 10 anos longe da PM, qual a sua válvula de escape hoje?

Pimentel - Minha válvula de escape hoje é falar sobre segurança pública, promover debates, falar com vocês aqui, isso é ótimo para mim, é minha válvula de escape hoje. A segurança pública precisa ser debatida, precisa ser comentada, analisada, eu falo todo dia no RJTV [da TV Globo] nessa linha, faço reflexões e o mais interessante é que esporte, cultura, moda, economia, política, isso sempre foi comentado e debatido em qualquer jornal do Brasil. Já na segurança pública a notícia sempre foi apresentada, jogada, e você acreditava naquilo. É o que o repórter policial falou, o que o coronel da PM disse, o que o delegado disse. Todo dia a gente poder falar de segurança, analisar fatos, é muito gratificante, é uma ótima válvula de escape.
UOL – É possível se falar tudo o que pensa sobre um tema delicado na maior emissora de TV do país?

Pimentel – Eu tenho toda e absoluta liberdade para falar sobre segurança pública na Rede Globo hoje, no RJTV. É um ótimo exercício, mas claro que é liberdade com responsabilidade. Eu tenho que apurar muito bem o fato.
UOL – Há três anos, o UOL fez uma entrevista na qual você revelou que largou o Bope após o nascimento do seu primeiro filho. Você imagina como seria a sua vida hoje se não tivesse tomado essa decisão?

Pimentel - Se eu estivesse na Polícia Militar, hoje, certamente estaria comandando um batalhão, talvez não o Bope, um batalhão de bairro. A vida de comandante de batalhão, ou de subcomandante, que eu também poderia estar desempenhando esta função, é uma vida meio infernal. É uma dedicação exclusiva para a atividade de comandante. Ele leva um celular para casa e esse celular vai tocar no final de semana umas dez vezes. Ele é acionado para qualquer tipo de evento de repercussão na área do seu batalhão, ele não tem tempo para viajar, ele não tem um final de semana com a família, é uma vida de privações em função do comando. Eu admiro todos os meus amigos que comandam unidades hoje. Talvez daqui dois, ou três anos eles coloquem a família em primeiro plano, mas quem comanda um batalhão hoje coloca a sua vida pessoal, afetiva e familiar em segundo plano.
UOL – Você sente falta da PM ou está mais feliz hoje longe deste trabalho?

Pimentel – É uma dedicação, é um estresse, é uma complicação, muita cobrança. Eu curto muito os meus dois filhos, curto muito meu fim de semana, todo o momento que eu posso estar com eles, conversando ou brincando, eu curto muito essa aproximação. Eu acho que eu não teria oportunidade disso se eu tivesse permanecido na Polícia Militar ou na Secretaria de Segurança Pública. Eu acho que eu sou mais feliz hoje estando fora, refletindo sobre segurança, escrevendo livros, argumentos e roteiros.
UOL – Falando em roteiro, você teve participação na história do longa metragem. Na sua opinião, o Rio de Janeiro retratado aos brasileiros é atual ou de cinco, seis anos atrás?

Pimentel – Na minha opinião de argumentista, de quem escreveu o argumento do filme, o original da obra, é o Rio de Janeiro de pelo menos seis, sete anos atrás. Muita coisa ainda persiste hoje, é bem verdade, mas é só fazer uma rápida comparação com o número de milicianos presos. No governo passado, no governo [Anthony] Garotinho, cinco foram presos. No governo atual 480 milicianos foram presos. Então, apesar do crescimento da milícia no Estado, existe uma evidente preocupação maior do aparato policial, da Secretaria de Segurança Pública, com essa nova modalidade que é a milícia.
Eu entendo que seja uma preocupação pequena ainda, mas pelo menos existe essa preocupação. Mas outras analogias você pode fazer de “antes e de hoje”. É a presença de candidatos a deputado federal, estadual, em favelas dominadas por milicianos.
UOL – No longa, é citada uma “queima de arquivo” que, no final das contas, regenera o sistema corrupto das milícias. Como combater, então, as milícias de forma definitiva?

Pimentel – Combater milícia não é fácil. Milícia você está combatendo deputados, vereadores da base do governo que possuem suas prerrogativas, suas imunidades, possuem suas articulações com o governo do Estado, com a prefeitura, então é algo muito difícil, que ninguém fez antes no Rio de Janeiro.
UOL – Por que é preciso um filme recordista de bilheteria para as pessoas se darem realmente conta da realidade que vivem ou viveram?

Pimentel - Uma boa matéria do jornal mais vendido do Rio de Janeiro, uma boa matéria de uma boa revista semanal vai atingir ali uma centena de milhares de cariocas e poucos brasileiros. Vai ficar restrito ao mercado do Rio. O filme Tropa de Elite é cultura de massa. Ele vai chegar a 10 milhões de pessoas, ele vai usar uma forma muito pedagógica que é o drama, que é a tragédia, que é o teatro.
Então fica muito mais fácil para você enxergar assim, do que numa coluna, num artigo de jornal. O relatório das milícias está pronto há um ano e meio [realizado pelo deputado estadual reeleito Marcelo Freixo]. Ele é público, está na internet, mas poucas pessoas acessaram. Pouca gente teve interesse. Com o filme fica tudo mais fácil. Com o filme, o cidadão que saiu para buscar uma diversão vai ter, além do entretenimento, a reflexão. Ele vai enxergar que ele pode ter votado em um deputado de uma daquelas máfias, que ele ainda pode estar votando em deputado daquelas máfias. Ele pode fazer melhor, pode cobrar uma nova política em relação a essas máfias.
UOL – O governador reeleito do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), já subiu em palanque com Jerominho e Natalino Guimarães, presos acusados de chefiarem milícias, além de homenagear em discurso o Álvaro Lins, também preso. Mesmo ele combatendo a milícia mais efetivamente, como você vê essa relação toda?

Pimentel – É evidente que o filme teve algum tipo de apoio do Estado, através da Secretaria de Cultura, tivemos apoio com os helicópteros da Polícia Civil, com as locações do Bope, com as locações do próprio gabinete do governador Sérgio Cabral, nós filmamos no gabinete dele. Então, eu entendo que se a carapuça servisse ao governo Sérgio Cabral o governo não nos apoiaria. A milícia é algo novo no cenário carioca, talvez seis ou sete anos. E, sim, todos os milicianos presos no Estado do Rio pertenciam a bases políticas de partidos do governo.
Então, todo político que ocupou cargo no executivo nos últimos 10 anos de alguma forma interagiu com milicianos, conversou com milicianos, porque eles pertenciam ao próprio governo. Eu confesso que, num primeiro momento, não só eu, mas outros policiais também entenderam a milícia como um “mal necessário”. Não tinha condição de imaginar que a milícia em tão pouco tempo iria ser tornar algo mais perigoso que o tráfico de drogas, justamente por essa relação com a política.
UOL – Por retratar um governador corrupto, você acredita que se “Tropa de Elite 2” fosse lançado antes das eleições teria potencial para mudar o rumo do pleito ao governo do Estado?

Pimentel – Esse filme tinha um verdadeiro potencial não para dar a vitória ao [candidato do PV Fernando] Gabeira, mas para as pessoas poderem refletir mais sobre o assunto. Poderiam pensar: “Será que ainda existe uma ligação do atual governo com milícias?” Mas, sim, iria trazer também ao eleitor de periferia essa reflexão. “Meu deputado é ligado à milícia? Meu deputado é miliciano? O meu voto é de opressão?” Eu acho que essa reflexão iria trazer. Talvez ainda uma outra: a liberdade de uns candidatos circularem nessas áreas. Porque essas áreas, a exemplo das eleições de 2006, foram negadas a candidatos na eleição de 2010. Eu conversei com o deputado [estadual reeleito pelo PT e ex-ministro do Meio-Ambiente] Carlos Minc e uma equipe dele foi atacada na região de Sepetiba [zona oeste do Rio], uma área dominada pelo deputado [já indiciado] Jorge Babu, que foi investigado pela CPI das Milícias.
Uma outra equipe do Marcelo Freixo também foi atacada, em Campo Grande [também zona oeste do Rio], área dominada por dezenas de milicianos. Então, essa reflexão, se a área do meu bairro, será que a minha periferia, a zona oeste em particular, será que candidatos têm acesso privilegiado à minha região? Com certeza sim. Então o legado do “Tropa de Elite 2” é o exercício de reflexão, o exercício de pensar no voto, de exigir do governo do Estado uma nova política para o combate dessas máfias.
UOL – A milícia tem a capacidade de formar novos líderes?

Pimentel - Formação de novos líderes, não. Os líderes são estes aí que estão representados. Mas ela continua existindo. Um bom exemplo disso foi (…) uma operação em Rio das Pedras [zona oeste do Rio] feita pela Draco, que prendeu dois majores da PM. (…) Depois desta grande operação, eu fui à favela no dia seguinte e os moradores reclamavam que todas as taxas de proteção tinham dobrado de preço. O segundo escalão continuava cobrando taxas.
A população estava revoltada, a polícia veio aqui, prendeu os líderes, e eles continuavam reféns. Ou seja, o que não foi feito ainda, e essa é a maior cobrança que devemos fazer ao governo Sérgio Cabral hoje, é unidades pacificadoras em favelas de milícia. Por que não se aproveitou o êxito da operação e estabeleceu ali uma unidade pacificadora? A polícia sabia que o tráfico, assim, iria retornar. Assim, ela passa a ser uma ação burra, não é algo inteligente, pois você só está trocando a favela de um criminoso para outro, tirando do miliciano e dando para o traficante.
UOL – Qual a força das milícias hoje no Rio de Janeiro, na sua opinião?

Pimentel – O melhor número para se medir milícia no Rio de Janeiro, por incrível que pareça, é da Agência Nacional do Petróleo. A ANP calcula que 1,2 milhão de cariocas comprem botijões de gás superfaturados no Rio de Janeiro. Porque compra botijão de gás pagando algum tipo de sobretaxa para a milícia. E não é só favela, bairros inteiros que estão nas periferias das favelas também estão subjugados por essas organizações milicianas. A grande porrada na milícia foi concentrada há uns 10, 12 meses. Grandes lideranças milicianas foram presas no Rio de Janeiro e foi uma desorganização muito grande na milícia. Nestas eleições, os milicianos não conseguiram apresentar seus filhos, seus sobrinhos, seus irmãos como candidatos, mas muitos candidatos não milicianos e oportunistas ainda buscaram e compraram esses votos nestas regiões dominadas. Estabeleceram compromissos de campanha que serão cobrados futuramente.

17 de novembro de 2010

SOLIDARIEDADE

Parece que a palavra solidariedade, na sociedade pós-moderna, torna-se cada vez mais uma raridade em decorrência de fatores que só o capitalismo selvagem, analisado sob o prisma do olhar dos sociólogos, poderia explicar.
Mas um parente meu, que emigrou para o Brasil no final do século dezenove, trouxe em sua bagagem solidariedade de sobra. Trata-se de meu bisavô François Gheur. Ele nasceu em Liege, na Bélgica em 1866. Lá, aos vinte anos, começou a trabalhar como engenheiro, em 1887, já com planejamento de estradas de ferro, pois esse era o transporte mais popular na Europa.  Sabendo de alguns engenheiros belgas que foram contratados para construírem estradas de ferro no sul do Brasil, decidiu deixar seus pais e irmãs e tentar a sorte no país da América do Sul. Chegou ao Paraná, precisamente em Paranaguá em 1890. 
Foi contratado pela Companhia de Estrada de Ferro São Paulo- Rio Grande, aos vinte e quatro anos, em primeiro de março de 1890, onde conviveu com os engenheiros da estrada de ferro como: Rodolph Lange, Gaston Serjat, Affonso Solheid que já trabalhavam na Companhia e eram provenientes da Bélgica.  Também conviveu com os engenheiros Antonio Pereira Rebouças, João Teixeira Soares que foi o construtor da ponte férrea de São João considerada uma obra prima nacional da ferrovia Curitiba-Paranaguá inaugurada em 02/02/1885. 
Como François não sabia falar o português, conheceu uma viúva de nome Carolina Figueiredo Condessa, na cidade de Antonina que lhe ensinou algumas palavras, pois estudara o francês. Ela possuía um filho pequeno de nome Francisco. François se apaixonou pela jovem viúva e a pediu em casamento. Constituindo família de oito filhos e um enteado, François estabeleceu-se em Antonina; mas depois fixou residência em Curitiba.
Suas funções técnicas na estrada de ferro o obrigavam a viajar por todos os lugares onde estivessem sendo construídas estradas de ferro. Foi aí que começou a revelar o seu lado solidário. A construção dessas estradas era um trabalho árduo em que os trabalhadores sofriam toda a sorte de problemas: desde casos de febres provocadas por malária, quedas e até problemas financeiros. Aí François chegava a se destacar pois era incapaz de deixar um operário sem ajuda financeira para comprar remédios para um filho doente, pagar um médico, comprar comida pois o parco salário não dava para sustentar-se de acordo.
Certa ocasião François estava a serviço da Cia. de Estrada de Ferro entre as cidades de Palmeira e Ponta Grossa. Conheceu um dos contratados como turmeiro para a construção da estrada de ferro daquele trecho. Era o imigrante polonês Miguel Zak , que também era carpinteiro. Esse tinha um filho de nome Jan Zak, que viria a se tornar o famoso escultor João Zaco Paraná. O menino nascido em 1884, na Silésia polonesa freqüentava a oficina de ferramentas de seu pai e, para se distrair, esculpia em madeira pequenas peças entalhadas a canivete como: santos e utensílios domésticos, que eram vendidas na estação do trem.
François percebe o talento do garoto e comovido, porque a família Zak não tinha condições de sustentar os estudos dele, resolve ajudá-lo. Pede ajuda também ao engenheiro seu colega Affonso Solheid e conseguem para Jan Zak uma bolsa de estudos junto ao Presidente do Estado, na época, Santos Andrade.
 Mas François, quando o trouxe para Curitiba, fez mais: hospedou-o na sua residência em 1895. Tornou-se tutor oficial dele que resolve assinar João Zaco Paraná.
François consegue então uma ajuda do governo do Paraná para que Zaco Paraná se matriculasse na Academia Real de Belas Artes de Bruxelas , na Bélgica.  E o nosso artista tem uma trajetória brilhante ao voltar para o Brasil vivendo até 1966.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, François recebe uma triste notícia: os alemães invadiram Liege e mataram toda sua família. Foi um triste baque para o engenheiro que havia nomeado a maioria de suas filhas com o mesmo nome de suas irmãs deixadas lá na Bélgica.
Meu avô Gastão, filho de François Gheur, jamais mencionou ou se vangloriou com as atitudes solidárias de seu pai François. Foi mais tarde, quando a família foi procurada por historiadores que essas ações vieram à tona para a família.
Mas François deixou um legado para seus descendentes: uma solidariedade humilde sem nunca esperar reconhecimento; pois Deus assim nos ensinou.
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(texto: Aurea Gheur S. de Souza)